sexta-feira, 1 de maio de 2020

Reconhecendo o conjunto

Até hoje eu nunca me mudei de bairro, conjunto ou mesmo casa. Sempre sempre morei na mesa rua pacata no bairro de Flores da minha cidade Manaus.
Em meio a quarentena, decidi caminhar pelo conjunto por motivos de: precisava respirar fundo combinado com um exercício tranquilo.
Era umas 17:20, quando troquei de roupa, coloquei meu tênis e bati a porta do portão para me aventurar em algumas ruas pelas quais passo diariamente por uns 20 e poucos anos.
No início da minha caminhada tudo o que eu pensava era a hora que eu ia voltar pra casa, se tinha cachorros pela rua que poderiam me morder, se eu iria encontrar com alguém que me conhecia, ou mesmo se ao passar pela lama eu iria acabar me sujando.
Tudo isso durou por uns minutos, até que eu comecei a ter que respirar fundo para pegar o fôlego e continuar a caminhada já que o tempo estipulado não estava nem perto de acabar. 
Mudei o foco dos meus pensamentos. 
Levantei a cabeça e passei a observar as casas, lembrar de quem morava ali, de como era lá dentro quando eu entrei pra brincar de cozinha com a vizinha, pra onde será que foi a família que morava aqui?
Comecei a perceber o quanto tudo ao meu redor tinha mudado, e durante anos, eu não tinha percebido nada. Eu fiquei impressionada que em uma dessas ruas tem uma casa caindo aos pedações, horrível, parece até mal assombrada, e com gente morando lá. Me perguntei, como pode?
Percebi que onde era uma casa de família se tornou uma escola, do nada! 
Sabe o que eu percebi também, que quanto eu era criança a metade da minha rua era cheia de cachorros e a outra metade de gatos, e nesse dia, não achei nenhum dos dois.

É aquele negócio, eu sempre preocupada com o grande, quando na verdade as coisas começam do pequeno. Eu estava preocupada com as mudanças do mundo, do país, de outros países, de pessoas grandes.. e nem por um segundo pensei nas mudanças dos meu vizinhos, da minha própria rua, das pessoas que não fazia mais parte desse círculo. 
É muita gente foi embora.. muitas casas mudaram, construíram comercio onde não existia, mas assim como eu, ainda tem gente que continua aqui.. e tudo bem por isso.

Vendo o quanto o meu conjunto mudou, percebi que mesmo as coisas que aparentemente permanecem ali no mesmo lugar, como eu me sinto inúmeras vezes, elas sofrem transformações, ou para melhor ou para pior. 
Um casa não pode escolher se vai ficar mais bonita e bem cuidada durantes os anos, ou mesmo a rua mais florida e menos esburacada, ou mesmo a árvore mais florida ou se arrancada pela raiz.. mas Deus me possibilitou poder todo dia ser alguém melhor, mais alegre, mais cuidada, mais inteligente, mais útil naquilo que eu me proponho, mesmo aparentemente, estando no mesmo lugar. 
Não significa que nada mudou. Pelo contrário. Tudo passa. 

Em meio a esse turbilhão de pensamentos em uma simples caminhada, quando eu já estava pensando em dar fim e voltar pra casa, eu confiro o celular pra ver as horas, começa a tocar na playlist a música POR VOCÊ, levanto a cabeça pra ver um lanchinho que vende pastel na esquina (que também nunca tinha visto antes) quando um raio de sol me acerta em cheio e me faz olhar em direção a ele. 
Passo a contemplar um por do sol lindo..

Deus é o único que nunca muda, nem o seu amor por mim.. 
Ele fez e faz tudo por mim, assim como na música que acompanhava aquele momento único: 

"Por você conseguiria até ficar alegre
Pintaria todo o céu de vermelho
Eu teria mais herdeiros que um coelho
Eu aceitaria a vida como ela é"

Nenhum comentário:

Postar um comentário